Um vagalume à noite, sendo lentamente devorado pela aranha, pisca como se pedisse socorro a quem passar pelo caminho. E a luz, que era vigorosa há horas atrás, ainda fraqueja, intermitente, para todos, para ninguém. A aranha se banqueteia, esse jantar iluminado...
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Do Silêncio
1. Moldando-se:
"Aos que silenciam falta-lhes quase sempre finura e cortesia do coração; Silenciar é uma objeção, engolir as coisas produz necessariamente mau caráter - estraga inclusive o estômago."
NIETZCHE, Friederich. Ecce Homo; Como Alguém se Torna o que é. Trad. Paulo césar de souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.29.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Sobre os Riscos
O que acontecia na verdade com Lóri é que, por alguma decisão tão profunda que os motivos lhe escapavam - ela havia por medo cortado a dor. Só com Ulisses viera aprender que não se podia cortar a dor - senão se sofreria o tempo todo. E ela havia cortado sem sequer ter outra coisa que em si substituísse a visão das coisas através da dor de existir, como antes. Sem a dor, ficara sem nada, perdida no seu próprio mundo e no alheio sem forma de contato.
LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
O início
XVIII
Esses inquietos ventos andarilhos
Passam e dizem: "Vamos caminhar.
Nós conhecemos misteriosos trilhos,
Bosques antigos onde é bom cismar"
E há tantas viegens a sonhar idílios!"
E tu não viste sob a paz lunar,
Beijar os seus entrefechados cílios
E as dolorosas bocas a ofegar..."
Os ventos vêm e batem-me à janela:
"A tua vida, que fizeste dela?"
E chega a morte: "Anda! Vem dormir:
Faz tanto frio... E é tão macia a cama..."
Mas toda a longa noite hei de ouvir
A inquieta voz dos ventos que me chama!...
QUINTANA, Mário. A rua dos cataventos.
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